Muito se tem falado sobre o Dimenor. Sua ferocidade
crescente, seu modos de zombar da sociedade, seu futuro de banditismo ou morte
em “ação”, e de suas inimputabilidades (êita...). Mas nunca se soube o que ele
pensa a respeito disso tudo. Pois tive uma chance de entrevistalo e não a
perdi. Abaixo, os principais trechos da conversa, em off, naturalmente.
- “Dimenor, me conte sobre você. O que você quiser. Mas não esconda
sobre seus motivos e nem sobre o que você espera do futuro”.
-“Pois é, Senhor, (Dimenor tem essa mania de chamar todo de senhor
e senhora quando está desarmado), eu sou um sujeito de paz. Não gosto de
violência e nem me meto em furadas. A não ser que seja preciso”.
-“Mas como assim, dizem que você assalta,
estupra, até mata à toa...Muitas vezes você aparece nas câmeras de segurança,
ameaçando e batendo em pessoas indefesas. Isso é ser pacífico ?”
- “Senhor, isso é modo de agir no meu trabalho. Se não fizer isso,
ninguém bota fé. E meu ganho se perde. Sacumé, né ?”
-“Como assim “trabalho” ? Assaltar é trabalho em seu modo de pensar?”
-“Pois foi assim que aprendi, uai. No começo até trabalhei pra um
traficante. Tinha uns treze anos. Era só pegar o bagulho e entregar pro
cliente. Sobrava um troco legal. Até bicicleta eu comprei. Fora que ajudava
minha mãe a comprar comida pra casa. Depois foi ficando mais difícil. Muita
concorrência, sacumé ? Muitos outros dimenores na parada, e os clientes nem
pagavam direito. Até que tive que cobrar com o ferro na mão. Mas não foi legal.
Matar amigos por causa de grana não está certo, né ?”
-“Mas não tinha outra coisa pra fazer ? Estudar, por exemplo ? A Escola
é grátis, material, merenda , uniforme, condução.”
- “É verdade. Tudo grátis. Menos roupa, sapato, celular, som. As minas
precisam receber pra transar com a gente. Não digo as putinhas. Mas as
namoradas. Se não tem uma presença, um presentinho, um lanche, uma curtida na
praia, qual vai querer o estudante aqui ?”
-“E seu pai? Não podia ajudar com essas coisas ?”
-“Qual...ele não vence de ganhar nem pra cervejas que toma...E nem sei
onde ele anda. Minha mãe botou ele pra fora de casa. Vivia bêbado e
desempregado.”
-“Mas to vendo que você fala bem. Onde aprendeu ?”
-“Olha, senhor, eu frequentei escola te os quinze anos. E até gosto de ler. Mas ví que não
ia dar em nada. Ai, juntei com uns valentes que já faziam os ganhos na vida e
larguei tudo. Na primeira vez levantei quase quinhentão. Aluguei um ferro
trezoitão e fui pra vida. Hoje tenho até moto e casa própria. Tá no nome de
minha tia que é pra não perder se eu morrer dia desses.”
“- Ah, Você sabe que pode morrer na ação ? “
- “Não. Mas tem policia que prende e depois mata. Tive amigos que
morreram assim. Fora que companheiros mesmo podem querer armar uma treta. Ai já
era, né ?”
- “E você já foi preso alguma vez ?”
-” Claro. Mas logo soltam a gente. É só não aprontar lá dentro que
botam você na rua. Pra tudo tem jeito.”
- “E o futuro ? Você pensa nele ?”
- “Claro. Ainda mais agora que nasceu minha filha. Quero dar tudo pra
ela. A mãe dela é meio galinha, mas sabe que se eu a pegar nas quebradas com
outro vai perder a filha e o bolsa família. Fora que de mim não leva mais nada.
Entrego a menina pra minha mãe criar e pronto. Minha mãe sabe como criar filhos
direitinho. Já criou quatro. Comigo cinco, né ?”
- “Dimenor, eu não sei se nos encontraremos novamente, mas espero que você
encontre um modo menos violento de ganhar a vida. E que eu não seja um “cliente
seu”, certo ?”
- “Senhor, logo vou fazer dezoito. Ai já pensei em sair dessa. Tô pensando
em montar um negócio certo, tudo na lei. Até guardo uma grana de cada ganho pra
fazer essa loja.”
- “Loja do que ?”
-“Não sei, mas vejo que tem gente que vai comprar coisas em Feira de
Santana e vende pro povão. O problema são os assaltos. (Risos) . Mas, se Deus quiser
vou conseguir. Te até um pastor me orientando pra isso.”
Esta entrevista tem ares de ficção, mas é resultado de um
papo reto que tive com um garoto que conheci num Lotação. Paramos meia hora na Praça
ACM e depois cada um foi pro seu lado fazer o ganho, conforme sabemos fazer. A redação foi feita de memória.