ENTREVISTA OLAVO DE CARVALHO:
Por Marcel van Hattem
Por ousado que sou, farei alguns comentários e
notas no próprio texto. Mas sem alterar o sentido, é claro. Acho que Olavo de
Carvalho merece ser respeitado e acompanhado. Um dos poucos que fala claro
sobre a cucuia em que nos metemos.
Don Giovanni.
A pesar de assumir rótulos tidos como repulsivos
pelo que chama de establishment
esquerdista na mídia, na cultura e na política brasileira, Olavo de
Carvalho é um fenômeno virtual no País. Residindo há quase uma década
nos Estados Unidos, o Jornalista e Filósofo tem um público fidelíssimo no
Brasil, e grande parte dele foi
conquistada nos últimos anos, pela internet.
Somente no Facebook ele possui mais de 50 mil seguidores em seu perfil. Sua fama na internet
intensificou-se a partir de 2007, com o seu Seminário On-line de Filosofia.
“Eu achava que teríamos uns 100 alunos. Hoje temos mais de 3 mil de
todo o Brasil e do exterior também”.
Com vasta obra publicada, seu recente
livro O MÍNIMO QUE VOCÊ PRECISA SABER PARA NÃO SER UM IDIOTA,
organizado por Felipe Moura Brasil e publicado pela Record, continua aparecendo
nas listas dos livros mais vendidos.
Em entrevista
exclusiva à REVISTA VOTO, concedida
da sua casa na Virgínia, Olavo de Carvalho fala
sobre política, cultura e por que não quer voltar ao Brasil. Nunca mais.
O
senhor é hoje considerado uma das mais importantes vozes do conservadorismo no
Brasil. Tem percebido
também um aumento no número de núcleos conservadores no País?
Sim,
formidavelmente. Durante
muito tempo, fiquei totalmente sozinho.
Era
um negócio tão esquisito que as pessoas nem entendiam o que eu estava
falando. Aos poucos,
começaram a ler mais, a se interessar. Hoje
é muita gente. Pelas pesquisas feitas pela Folha de S. Paulo, você vê que o público
brasileiro é acentuadamente conservador. Ele
só não tem canais, não tem liderança, não tem porta-voz. Agora já tem alguns. Não propriamente
na política, mas no jornalismo e na internet, na cultura.
Curiosamente antes de aparecer Olavo de Carvalho na Mídia Virtual, todos no Brasil achávamos que o Governo estava fazendo aquilo que podia. Mesmo errando, tínhamos que engolir, pois ele fora eleito DENTRO DAS NORMAS DEMOCRÁTICAS VIGENTES.
E
por que, na sua opinião, não há conservadores na política brasileira?
Isso
começa já no tempo dos militares. Os
militares, em vez de incentivar alguma política liberal ou conservadora, eles
simplesmente mataram a política. Eles
tinham uma ideia tecnocrática, remotamente inspirada no positivismo
de Augusto Comte, que dizia que os problemas políticos deveriam ser resolvidos
pelo método científico. Mais
ainda: todas as organizações da sociedade civil que participaram do movimento
de 64 foram definhando, o governo as deixou às traças. Então, não só desapareceu a
política como também as lideranças da sociedade civil e abriu um espaço para as
lideranças comunistas ocuparem. A
guerrilha foi eliminada, mas a esquerda pacífica, entre aspas, ocupou todos os
espaços. Podemos dizer sem
sombra de dúvidas que a esquerda dominou completamente a mídia e as
universidades já durante a época da ditadura, sem que o governo nada fizesse para
impedir isso, nem mesmo no embate cultural. A
Petrobras era a 12ª empresa no mundo e hoje é a 120ª, e o grande período de
decadência tem sido nestes últimos anos.
Essa é uma parte muito misteriosa do período Militar no Brasil. Afinal, eles permitiram a escalada esquerdista quando nos devolveram um País quase Histérico, onde acreditamos que a volta das Diretas seria a panacéia para todos os problemas, né ?
A que o senhor computa isso?
Quando
um político revolucionário, comprometido com o movimento revolucionário
continental como o Foro de São Paulo, assume o governo do País por vias
democráticas, ele tem que atender simultaneamente a dois tipos de compromisso:
ele sobe lá com um programa que ele
precisa cumprir e, por baixo disso, ele tem uma outra série de
compromissos que é com o próprio movimento revolucionário. Esses compromissos com o
movimento são muito mais fortes do que os outros. Ele vive em um regime de dupla
lealdade. Quando o Lula
assume, ele A feiura no Brasil já virou valor. Você tem a feiura estética,
na indumentária, na música. A feiura na esculhambação e no esculacho geral. Tem um programa econômico, mas
por baixo disso tem o plano de implantar o socialismo. Para implantar o socialismo,
você tem que ter uma política dúbia, que por um lado mantém a economia mais ou
menos funcionando, para não criar hostilidade popular, mas que por baixo esteja
solapando tudo. E criando crise social. Ninguém vai entender o Lula, os
governos do PT, se os encarar de uma maneira linear. Raciocinar de
maneira dialética, pensar em dois planos, isso é da tradição do movimento
revolucionário.
Outro mistério, que beira a Teoria da Conspiração, é entender essa dicotomia.
Nesse sentido, o Brasil pode estar seguindo o mesmo
rumo da Venezuela?
Pior. Pior porque na Venezuela você
tem uma imensa oposição organizada, ativa, e no Brasil você não tem nada. No Brasil, os próprios
militares desmantelaram a direita brasileira. E
os protestos de junho
não podem ser comparados ao que acontece hoje na Venezuela? Não, não podem pelo
seguinte: há uma insatisfação enorme por causa de imposto, mau serviço público,
falta de segurança O Brasil tem 70 mil homicídios por ano, uma coisa
absurda! Os movimentos de junho foram criados pelo próprio pessoal do
Foro de São Paulo para acirrar as contradições e encerrar a fase de transição,
que foi o governo Lula, e passar para a implantação do socialismo. Esta era a ideia. Botaram a garotada na rua,
treinaram uma parte para gritar, outra para fazer depredação. Uma parte da população
saiu voluntariamente à rua, ocupando mais espaço do que a militância treinada. É um acontecimento inédito,
nunca houve uma manifestação espontânea desse tamanho em país algum. Não tinha liderança, não tinha
organização, não tinha coisa nenhuma. Só
o pessoal da esquerda que tinha.
Mais grave que isso, só aguardando os resultados pra ver se é isso mesmo.
Os rumores de que
lula poderia voltar a se candidatar à Presidência da República têm fundamento?
É
bem possível. Acho que ele
quer, quer muito. Ele é
isso. Toda a vida dele foi
feita para ele virar o que ele virou. Ele
não é capaz de fazer outra coisa. O
que o Lula vai fazer? Escrever as memórias? Vai abrir uma empresa?
Aqui eu discordo do Professor: Lulla está sendo preservado para assumir algum cargo monumental assim que a PÁTRIA GRANDE SE TORNAR IRREVERSÍVEL. Na pior das hipóteses, ele estará ao lado do Panteão dos Heróis: Bolívar, Chaves, Fidel, Chê e outros menos votados. Além do mais, ele sabe que o próximo governo, seja quem for, vai amargar uma crise sem precedentes no Brasil. E, quem sabe, precise ser usada força para controlar as pessoas nas ruas.
Seu
livro, organizado por Felipe moura Brasil, é intitulado O mínimo que
você precisa saber para não ser um idiota. Quem
é o idiota?
Em
princípio, todo mundo no Brasil é idiota até prova em contrário. Por quê? Este é um país que
odeia o conhecimento. Há
mais de dez anos nossos alunos da escola secundária tiram
sistematicamente os últimos lugares em todos os testes internacionais, abaixo
de estudantes do Paraguai, da Serra Leoa, de Uganda. Então, dizer que o
brasileiro é o povo mais burro da face da Terra não é exagero nenhum, é uma
questão de estatística. As
pesquisas mostram que entre 35% e 50% dos nossos universitários são analfabetos
funcionais. Ou seja: é
esse pessoal que está sendo diplomado. Os
nossos professores universitários,
os nossos advogados, nossos sociólogos, filósofos, todos analfabetos
funcionais! Então, é claro que é um bando de idiota. Não estou xingando, é uma
constatação quantitativa.
Isso quer dizer
que, com o desaparecimento da alta cultura no Brasil para ser máquina de
propaganda do PT, acabaram com a inteligência do Brasil.
Muitas
pessoas que lerão esta entrevista acharão que o senhor é muito
radical e muito pessimista.
Então, está bem! Na
primeira vez em que foi noticiado que nossos estudantes do secundário tinham
tirado último lugar nos testes internacionais, o ministro da Educação à época
disse: Poderia ter sido pior. Como
assim, tem algum lugar abaixo do último? Isso é que é um otimista
no Brasil! Abaixo do último não tem pra onde cair. Quando você chega a 70 mil
homicídios por ano, o que você espera que aconteça? Quem pode ser otimista
diante de uma coisa dessas? Estou discutindo uma questão objetiva, fatos e
números. Aí o sujeito vai
dizer: ?Você é muito radical?. Quer
dizer, se eu fosse menos radical, o número de homicídios diminuiria? Isso é
puro raciocínio mágico.
Mas qual é na sua opinião a saída para o Brasil?
A única saída possível é o pessoal liberal e conservador começar do começo: tentar começar a organizar a sociedade civil desde as suas bases mais modestas e locais. Experimentem tomar um sindicato, uma redação de jornal, uma organização religiosa. Mas eles não querem.
Os comunistas começaram no pequeno, tomando as organizações da sociedade civil há mais de 60 anos, e foram crescendo. Só que os liberais e conservadores não querem fazer, querem chegar por mágica, querem dominar o País sem terem dominado a sociedade civil. Isso nunca vai dar certo.
O senhor está há nove nos EuA e não retornou para o
Brasil...
Nenhuma vez e não volto mais aí.
O que o faria voltar?
Nada. Absolutamente nada. Eu não pisarei mais nesse País. Já me esforcei muito por esse
País e continuo me esforçando. Só
que você ficar aí dentro é você ficar impotente. Daqui de fora dá para fazer
alguma coisa, daí não dá para fazer nada.
Um auto exilado
Mas
o que move o senhor a continuar o trabalho relacionado ao Brasil, apesar
de estar nos EUA e não querer voltar ao País?
É a
minha vida, tudo o que estou fazendo é pelo Brasil. Eu só não quero ser contaminado
pela loucura, mas preciso fazer algo pela reabilitação da cultura brasileira. Os escritos de alunos
meus que começaram a aparecer recentemente, do Felipe Moura Brasil, do Rafael Falcon,
do Gustavo Nogy, do Flavio Morgenstern, e vários outros, esse pessoal
está em um nível infinitamente superior ao da média dos universitários e
jornalistas brasileiros. Sem
alta cultura não dá para fazer nada. Não
dá para fazer política. Dizia
o poeta austríaco Hugo von Hofmannsthal: Nada
está na política de um país que não esteja primeiro na sua literatura. Sem restauração da alta cultura
é bobagem pensar em política. Quantos
debates houve no Parlamento a respeito dos 70 mil homicídios por ano?
Nenhum. Falam genericamente
de violência. Mas não se
trata de violência, se trata de crime. Os
caras estão lá discutindo o quê? Direito dos gays, bullying contra gays nas
escolas.
Precisamos dar um
jeito nisso aí.