sábado, 5 de abril de 2014

Acabaram com a inteligência no Brasil?

ENTREVISTA OLAVO DE CARVALHO:


Por Marcel van Hattem

Por ousado que sou, farei alguns comentários e notas no próprio texto. Mas sem alterar o sentido, é claro. Acho que Olavo de Carvalho merece ser respeitado e acompanhado. Um dos poucos que fala claro sobre a cucuia em que nos metemos.
Don Giovanni.

A pesar de assumir rótulos tidos como repulsivos pelo que chama de establishment esquerdista na mídia, na cultura e na política brasileira, Olavo de Carvalho é um fenômeno virtual no País. Residindo há quase uma década nos Estados Unidos, o Jornalista e Filósofo tem um público fidelíssimo no Brasil,  e grande parte dele foi conquistada nos últimos anos, pela internet.  Somente no Facebook ele possui mais de 50 mil seguidores em seu perfil. Sua fama na internet intensificou-se a partir de 2007, com o seu Seminário On-line de Filosofia. 
“Eu achava que teríamos uns 100 alunos. Hoje temos mais de 3 mil de todo o Brasil e do exterior também”. 

Com vasta obra publicada, seu recente livro O MÍNIMO QUE VOCÊ PRECISA SABER PARA NÃO SER UM IDIOTA, organizado por Felipe Moura Brasil e publicado pela Record, continua aparecendo nas listas dos livros mais vendidos. 
Em entrevista exclusiva à REVISTA VOTO, concedida da sua casa na Virgínia, Olavo de Carvalho fala sobre política, cultura e por que não quer voltar ao Brasil.  Nunca mais. 

O senhor é hoje considerado uma das mais importantes vozes do conservadorismo no Brasil. Tem percebido também um aumento no número de núcleos conservadores no País?
Sim, formidavelmente. Durante muito tempo, fiquei totalmente sozinho.
Era um negócio tão esquisito que as pessoas nem entendiam o que eu estava falando. Aos poucos, começaram a ler mais, a se interessar. Hoje é muita gente. Pelas pesquisas feitas pela Folha de S. Paulo, você vê que o público brasileiro é acentuadamente conservador. Ele só não tem canais, não tem liderança, não tem porta-voz. Agora já tem alguns. Não propriamente na política, mas no jornalismo e na internet, na cultura. 

Curiosamente antes de aparecer Olavo de Carvalho na Mídia Virtual, todos no Brasil achávamos que o Governo estava fazendo aquilo que podia. Mesmo errando, tínhamos que engolir, pois ele fora eleito DENTRO DAS NORMAS DEMOCRÁTICAS VIGENTES. 


E por que, na sua opinião, não há conservadores na política brasileira?
Isso começa já no tempo dos militares. Os militares, em vez de incentivar alguma política liberal ou conservadora, eles simplesmente mataram a política. Eles tinham uma ideia tecnocrática, remotamente inspirada no positivismo de Augusto Comte, que dizia que os problemas políticos deveriam ser resolvidos pelo método científico. Mais ainda: todas as organizações da sociedade civil que participaram do movimento de 64 foram definhando, o governo as deixou às traças. Então, não só desapareceu a política como também as lideranças da sociedade civil e abriu um espaço para as lideranças comunistas ocuparem. A guerrilha foi eliminada, mas a esquerda pacífica, entre aspas, ocupou todos os espaços. Podemos dizer sem sombra de dúvidas que a esquerda dominou completamente a mídia e as universidades já durante a época da ditadura, sem que o governo nada fizesse para impedir isso, nem mesmo no embate cultural. A Petrobras era a 12ª empresa no mundo e hoje é a 120ª, e o grande período de decadência tem sido nestes últimos anos. 

Essa é uma parte muito misteriosa do período Militar no Brasil. Afinal, eles permitiram a escalada esquerdista quando nos devolveram um País quase Histérico, onde acreditamos que a volta das Diretas seria a panacéia para todos os problemas, né ?

A que o senhor computa isso?
Quando um político revolucionário, comprometido com o movimento revolucionário continental como o Foro de São Paulo, assume o governo do País por vias democráticas, ele tem que atender simultaneamente a dois tipos de compromisso: ele sobe lá com um programa que ele precisa cumprir e, por baixo disso, ele tem uma outra série de compromissos que é com o próprio movimento revolucionário. Esses compromissos com o movimento são muito mais fortes do que os outros. Ele vive em um regime de dupla lealdade. Quando o Lula assume, ele A feiura no Brasil já virou valor. Você tem a feiura estética, na indumentária, na música. A feiura na esculhambação e no esculacho geral. Tem um programa econômico, mas por baixo disso tem o plano de implantar o socialismo.  Para implantar o socialismo, você tem que ter uma política dúbia, que por um lado mantém a economia mais ou menos funcionando, para não criar hostilidade popular, mas que por baixo esteja solapando tudo. E criando crise social. Ninguém vai entender o Lula, os governos do PT, se os encarar de uma maneira linear. Raciocinar de maneira dialética, pensar em dois planos, isso é da tradição do movimento revolucionário. 

Outro mistério, que beira a Teoria da Conspiração, é entender essa dicotomia.

Nesse sentido, o Brasil pode estar seguindo o mesmo rumo da Venezuela?
Pior. Pior porque na Venezuela você tem uma imensa oposição organizada, ativa, e no Brasil você não tem nada.  No Brasil, os próprios militares desmantelaram a direita brasileira. E os protestos de junho não podem ser comparados ao que acontece hoje na Venezuela? Não, não podem pelo seguinte: há uma insatisfação enorme por causa de imposto, mau serviço público, falta de segurança O Brasil tem 70 mil homicídios por ano, uma coisa absurda! Os movimentos de junho foram criados pelo próprio pessoal do Foro de São Paulo para acirrar as contradições e encerrar a fase de transição, que foi o governo Lula, e passar para a implantação do socialismo. Esta era a ideia. Botaram a garotada na rua, treinaram uma parte para gritar, outra para fazer depredação. Uma parte da população saiu voluntariamente à rua, ocupando mais espaço do que a militância treinada. É um acontecimento inédito, nunca houve uma manifestação espontânea desse tamanho em país algum. Não tinha liderança, não tinha organização, não tinha coisa nenhuma. Só o pessoal da esquerda que tinha. 

Mais grave que isso, só aguardando os resultados pra  ver se é isso mesmo.

Os rumores de que lula poderia voltar a se candidatar à Presidência da República têm fundamento?
É bem possível. Acho que ele quer, quer muito. Ele é isso. Toda a vida dele foi feita para ele virar o que ele virou. Ele não é capaz de fazer outra coisa. O que o Lula vai fazer? Escrever as memórias? Vai abrir uma empresa?

Aqui eu discordo do Professor: Lulla está sendo preservado para assumir algum cargo monumental assim que a PÁTRIA GRANDE SE TORNAR IRREVERSÍVEL. Na pior das hipóteses, ele estará ao lado do Panteão dos Heróis: Bolívar, Chaves, Fidel, Chê e outros menos votados. Além do mais, ele sabe que o próximo governo, seja quem for, vai amargar uma crise sem precedentes no Brasil. E, quem sabe, precise ser usada força para controlar as pessoas nas ruas.

Seu livro, organizado por Felipe moura Brasil, é intitulado O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. Quem é o idiota? 
Em princípio, todo mundo no Brasil é idiota até prova em contrário. Por quê? Este é um país que odeia o conhecimento. Há mais de dez anos nossos alunos da escola secundária tiram sistematicamente os últimos lugares em todos os testes internacionais, abaixo de estudantes do Paraguai, da Serra Leoa, de Uganda. Então, dizer que o brasileiro é o povo mais burro da face da Terra não é exagero nenhum, é uma questão de estatística.  As pesquisas mostram que entre 35% e 50% dos nossos universitários são analfabetos funcionais.  Ou seja: é esse pessoal que está sendo diplomado. Os nossos professores  universitários, os nossos advogados, nossos sociólogos, filósofos, todos analfabetos funcionais! Então, é claro que é um bando de idiota. Não estou xingando, é uma constatação quantitativa. 
Isso quer dizer que, com o desaparecimento da alta cultura no Brasil para ser máquina de propaganda do PT, acabaram com a inteligência do Brasil. 

Muitas pessoas que lerão esta entrevista acharão que o senhor é muito radical e muito pessimista. 
Então, está bem! Na primeira vez em que foi noticiado que nossos estudantes do secundário tinham tirado último lugar nos testes internacionais, o ministro da Educação à época disse: Poderia ter sido pior.  Como assim, tem algum lugar abaixo do último?
Isso é que é um otimista no Brasil! Abaixo do último não tem pra onde cair. Quando você chega a 70 mil homicídios por ano, o que você espera que aconteça? Quem pode ser otimista diante de uma coisa dessas? Estou discutindo uma questão objetiva, fatos e números. Aí o sujeito vai dizer: ?Você é muito radical?. Quer dizer, se eu fosse menos radical, o número de homicídios diminuiria? Isso é puro raciocínio mágico. 

Mas qual é na sua opinião a saída para o Brasil?
 
A única saída possível é o pessoal liberal e conservador começar do começo: tentar começar a organizar a sociedade civil desde as suas bases mais modestas e locais. Experimentem tomar um sindicato, uma redação de jornal, uma organização religiosa. Mas eles não querem.  
Os comunistas começaram no pequeno, tomando as organizações da sociedade civil há mais de 60 anos, e foram crescendo. Só que os liberais e conservadores não querem fazer, querem chegar por mágica, querem dominar o País sem terem dominado a sociedade civil. 
Isso nunca vai dar certo.

O senhor está há nove nos EuA e não retornou para o Brasil... 

Nenhuma vez e não volto mais aí. 

O que o faria voltar?
Nada. Absolutamente nada. Eu não pisarei mais nesse País. Já me esforcei muito por esse País e continuo me esforçando. Só que você ficar aí dentro é você ficar impotente. Daqui de fora dá para fazer alguma coisa, daí não dá para fazer nada. 

Um auto exilado

Mas o que move o senhor a continuar o trabalho relacionado ao Brasil, apesar de estar nos EUA e não querer voltar ao País?

É a minha vida, tudo o que estou fazendo é pelo Brasil. Eu só não quero ser contaminado pela loucura, mas preciso fazer algo pela reabilitação da cultura brasileira. Os escritos de alunos meus que começaram a aparecer recentemente, do Felipe Moura Brasil, do Rafael Falcon, do Gustavo Nogy, do Flavio Morgenstern, e vários outros, esse pessoal está em um nível infinitamente superior ao da média dos universitários e jornalistas brasileiros. Sem alta cultura não dá para fazer nada. Não dá para fazer política. Dizia o poeta austríaco Hugo von Hofmannsthal: Nada está na política de um país que não esteja primeiro na sua literatura. Sem restauração da alta cultura é bobagem pensar em política. Quantos debates houve no Parlamento a respeito dos 70 mil homicídios por ano? Nenhum. Falam genericamente de violência. Mas não se trata de violência, se trata de crime. Os caras estão lá discutindo o quê? Direito dos gays, bullying contra gays nas escolas. 

Precisamos dar um jeito nisso aí.